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Mãe!, o novo filme de Darren Aronofsky, pode te levar à loucura

O longa-metragem oferece múltiplas leituras e interpretações. Mas todos concordam que é “coisa de louco”

Em Réquiem para um sonho (2000), o vício em drogas arrasta uma família inteira para a sandice, incluindo Sara (Ellen Burstyn), a matriarca que, ao se entregar às pílulas para emagrecer, acaba num hospital psiquiátrico. Em Cisne negro (2010), a bailarina Nina (Natalie Portman) fica obcecada pelo papel principal da peça O lago dos cisnes e comete uma série de atos desvairados para consegui-lo. Ambos os filmes levam o nome de Darren Aronofsky na direção, aos quais o cineasta americano imprimiu sua característica mais marcante: o dom de retratar personagens à beira da loucura, que passam por situações extremas, tenebrosas e aflitivas. Não é diferente com Mãe!, longa-metragem que estreia nesta quinta-feira (21), no qual Aronofsky também assina o roteiro. O diretor leva seus personagens (e a plateia) às raias da insanidade. Ao subir dos créditos, será um alívio ver as luzes se acender e perceber que tudo não passou de um filme.

A história gira em torno da personagem de Jennifer Lawrence, que não recebe um nome. Ela vive com um marido muito mais velho (também sem nome, interpretado por Javier Bardem) em uma casa vitoriana octogonal, no meio do nada. No passado, a casa fora o lar da família do marido. Porém, tudo foi destruído num grande incêndio. A mulher, que parece nutrir uma ligação especial com o lugar, reconstruiu cada cômodo da casa numa dedicação cega. Quando o filme começa, ela está dando os retoques finais aos cômodos. O marido é escritor e, em meio a um bloqueio criativo, se mostra distante e frio. Tudo está relativamente tranquilo, até que um homem (Ed Harris) chega na calada da noite. Nesse momento, o espectador percebe que nenhum personagem será nomeado. O marido, ávido por novidades e inspiração, o deixa entrar e ficar. No dia seguinte, a mulher (Michelle Pfeiffer) do visitante misterioso também chega.

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Desde o início, a personagem de Jennifer se mostra introspectiva, quieta. Ao chegarem os hóspedes, ela fica acuada. Não consegue se impor ao marido e tenta se esquivar das situações incômodas em que os visitantes a colocam. Eles dão demonstrações de afeto efusivas em público, invadem espaços particulares, mexem nos utensílios da casa e fumam dentro dos cômodos. A dona da casa tenta manter a ordem em vão. Seu incômodo é quase palpável. Quando chegam os filhos do casal de visitantes, discutindo e se agredindo, a maluquice se instala de vez.

Usando efeitos sonoros acurados e uma filmagem precisa, Aronofsky projeta, num crescendo compassado e assustador, a eclosão do desconforto para fora da tela. Ninguém gosta de ter seu espaço invadido, e a impotência da personagem principal deixa todos aflitos. Pelo formato da casa (quase arredondado, com seus oito lados), a câmera parece estar sempre andando em círculos, acompanhando cada passo de Jennifer. Há apenas três tipos de enquadramento no filme: close no rosto dos personagens, em especial no de Jennifer; como se a câmera a seguisse por trás, bem de pertinho; e um quadro mais aberto que mostra mais detalhes da cena. O espectador tem a sensação incômoda de estar sendo levado pelo cabresto de Aronofsky durante duas horas. Conforme cada personagem passeia pela casa, ouvem-se os rangidos da madeira e das dobradiças e os passos que ecoam no chão. Numa sala de cinema, com um sistema de som que divide o barulho pelas caixas, é possível saber onde cada personagem está na casa.

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Ao longo da trama, mais e mais pessoas vão chegando. O marido quer atenção e aceita dividir tudo o que tem com os forasteiros. A mulher se exaspera cada vez mais no compasso em que tudo a seu redor começa a desmoronar sob o peso de tantos pés, mãos e bocas agitadas que a desrespeitam e ignoram. Essa narrativa deu origem a diversas interpretações pela crítica. Houve quem enxergasse uma alegoria à xenofobia – poderia ser uma crítica a quem impede os outros de entrar, ou uma condenação de quem chega sem ser convidado. Outras pessoas imaginaram que o descaso do marido e os constantes abusos sofridos pela mulher fossem um recado feminista contra os maus-tratos às mulheres desde que o mundo é mundo. Também falou-se sobre os aspectos religiosos dos personagens – os irmãos que se atacam seriam Caim e Abel?

Em uma coletiva de imprensa no Brasil, Aronofsky afirmou que cada espectador vai se apegar às interpretações que digam mais respeito a seus próprios sentimentos. No entanto, sua intenção original foi explorar a ideia da natureza e do abuso de seus recursos pelo homem e trazê-la para um nível “individual”, mais próximo. “É muito difícil entender um problema global. Mas todo mundo entende a ideia de alguém que entra em sua casa e queima um cigarro em seu carpete. Você se lembraria desse hóspede pelo resto da vida”, diz Aronofsky, que é conhecido por sua militância como ambientalista. A personagem de Jennifer Lawrence, diz ele, seria a encarnação da mãe natureza tentando sobreviver ao caos do crescimento desenfreado da humanidade. Ele também afirmou que pegou emprestado alguns aspectos bíblicos para compor os primeiros hóspedes a chegar à casa, que representam Adão e Eva. Nos créditos, descobre-se que o personagem de Bardem é chamado de Ele, assim com letra maiúscula.

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Seja qual for a interpretação escolhida, o espectador deixará a sala de cinema com a sensação de que levou uma pancada na cabeça, que desestabilizou os sentidos e o bom senso. Em seus filmes, Aronofsky vem aperfeiçoando sua técnica e logo conseguirá deixar seus espectadores tão perturbados quanto seus personagens.

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